domingo, 15 de maio de 2011

19 - O BUMBA DO CUPUAÇU

O dia sem perceber tinha virado noite e eles estavam se transformando em criaturas encantadas, as conversas diminuiram na Sedinha, é como se a energia do boi pairasse no Morro do Querosene.


Vaqueiro

Foto: Michele Medeiros


Os Vaqueiros se arrumavam e iam pra fogueira. Fique observando Bete, uma senhora discreta que não é de muita conversa. Ela se trocava no quintal e a medida que colocava as roupas de Catirina sua atitude ia mudando, estava se transformando em sua personagem. Enquanto observava Catirina escutava Marilena sentada no quintal entoando várias toadas, como se fosse uma reza. No vai e vem dos jovens um deles sempre parava e a acompanhava. E assim ela cantou por muito tempo.



Enquanto se arrumava, Pai Francisco emocionado contava que era só um morador do Morro do Querosene.


"Teve um dia que a pessoa que fez o Pai Francisco durante anos disse que não poderia fazer, aí o Tião perguntou se eu topava fazer.
Fiquei com medo porque faltava duas semanas e eu nunca tinha feito nada daquilo. Eu fiz, e hoje eu sou o Pai Francisco do Grupo Cupuaçu.”


Em seguida falou:

“Eu quero que agente amanheça dançando o Boi”


Pai Francisco

Foto: Michele Medeiros


Tião entoa forte a toada:


“Lá vai, lá vai
A turma do morro quando desce é uma beleza
Corre morena vem ver

Pois chegou bonito e colorindo a natureza”



Todos começam a dançar, e assim começa a Festa do Renascer, tambor-onça geme para recomeçar um novo ciclo. O ritmo pesado, a música que nos dá a impressão de cíclica é entoada com firmeza e determinação. A dança traz elementos da terra, da natureza e dos nossos ancestrais. A mesma magia que vi nas crianças que brincavam o boizinho aparecia novamente, mas agora nos olhos dos adultos, a mesma magia de encantamento.


Caboclo de Pena e Índia

Fotos: Adriana Guedes


Dança intensa circular assim é o movimento do grupo, dos ciclos e da própria vida e a todo instante o batalhão reforça esse sentido. Já tínhamos visto ensaios com o Boi mas aquele momento era único, realmente celebravam com o boi. Durante a dança se revezavam, diferentes pessoas dançavam com o boi, inclusive o próprio Amo.


CAZUMBÁ

Fotos: Adriana Guedes



Vi naquela praça, todos se transformando em Índias, Caboclos, Cazumbás, Amo, vi uma celebração de todas as ancestralidades juntas, era como se existissem duas festas, uma que se explica e outra que não se vê, mas se sente, no toque de cada toada. O fogo, apesar de estar num canto aquecia toda a praça.

A DESPEDIDA



O último momento foi muito delicioso, todas as pessoas começaram a dançar ao redor do boi e quando passavamos atrás dos pandeirões compreendemos porque os brincantes não param de dançar. As batidas no pandeirão parecem injeções súbitas de vida, de ânimo e alegria, uma espécie de conexão com a terra e com o universo.


Depois voltamos todos para a Sedinha para comer feijoada e canjica as 02:00hs da manhã do dia 24 de abril de 2011. O mais engraçado é que mal tinha acabado aquela apresentação e já estavam falando da próxima festa, O Batizado. Logo depois do descanso o Grupo subiu para esquentar os tambores e brincar o Tambor de Criola até o dia amanhecer.

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