segunda-feira, 27 de junho de 2011

22 - A FESTA DO BATIZADO


Cartaz confeccionado por Renata
Foto: Leandro Dias



No final da festa do Renascer, antes mesmo das últimas fagulhas da fogueira, o grupo já conversava sobre os preparativos do Batizado. Caio disse que iria fazer as bandeirinhas, falou com Isabel que começou a cortá-las. Daí pra frente, todas as quintas-feiras antes do ensaio fizeram bandeirinhas para enfeitar a praça, esse rito foi incorporado ao “aquecimento” do grupo.



Caio colocando as bandeirinhas para Festa do Batizado de 2011
Foto: Leandro Dias



No meio do corre corre dos ensaios e preparativos pra festa, o Grupo Cupuaçu recebe uma visita, Silvestre, irmão de Tião, Isabel e Ana Maria.



Silvestre contou algumas histórias enquanto arrumavamos o altar. Sempre muito zelozo com cada pedaço de tecido que cortava, com cada enfeite, disse que essa é uma herança que recebeu de seus pais. Segundo ele, seu pai era muito festeiro não perdia um boi, disse que ele e os irmãos são muito unidos por causa da educação que receberam dos pais.




Silvestre e Lili
Foto: Rosana Araújo



Passamos o dia inteiro rindo, as pessoas do morro do querosene passavam comprimentando o Silvestre pensando que era o Tião. Os carros passavam e Businavam:



"Oh Tião!"



E ele fazia de conta que era o Tião, e nós ríamos!!!



Essa festa foi muito especial, o Grupo Cupuaçu comemora seus 25 anos e o Boi batizado ganhou o nome de Jubileu de Prata.



Durante o crepúsculo, as mulheres se dividem, Graça e Isabel assumem a arrumação do altar, a cada toque delas, tudo se transforma e fica mais bonito.




Altar da Festa do Batizado 2011
Foto: Rosana Araújo



“A frente deste altar é onde o Boi será batizado e onde acontece toda celebração. (...) Canto seguro, depositário de esperanças, vela e promessas. Aconchego, de onde toda beleza emana. Contém em si a representação da duplicidade do olhar: é o local privilegiado de onde os santos assistem a toda a brincadeira; e é para lá que todos os olhares e esperanças se voltam.” (Saura; Soraia, 2008 – Planeta de Boieiros – as culturas populares e educação de sensibilidade no imaginário do Bumba-Meu-Boi, Tese de Doutorado pela Faculdade de Educação da USP, Pág. 283)



Aconteceu uma coisa linda, enquanto o batalhão Guarnecia na fogueira algumas mulheres arrumavam o Boi. Uma costurava a barra, outra enfeitava os chifres com fitas coloridas, outra bordava o nome Jubileu de Prata, vez ou outra entoavam toadas de batizado, foi bonito.




Ana Maria preparando o Boi para o Batizado
Foto: Rosana Araújo



O Boi pronto, chega coberto ao Altar, inicia então o ritual de Batismo.






Bete e Fábio os padrinhos do Boi.




Os Padrinhos Batizando logo após o Batizado do Boi
Foto: Rosana Araújo



"Tudo tem que ser bonito, figurino, toadas, bordado… Por que é promessa pra São João."


Tião Carvalho

21 - RENATA AMARAL FALA DO BOI

Entrevistamos a musicista e pesquisadora da cultura popular Renata amaral. Abaixo alguns trechos dessa entrevista


A ARTE DILUI DIFERENÇAS



A TRADIÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE



ARTE DE COMBATE





EXPERIENCIANDO O BOI




O MAIOR ESPETÁCULO DA TERRA




ORALIDADE




PRÁTICA E RESISTÊNCIA




TODOS TEM UM LUGAR DENTRO DA MANIFESTAÇÃO





VOCÊ TEM UMA IDENTIDADE MUSICAL, COMO FOI CONSTRUÍDA



terça-feira, 24 de maio de 2011

20 - Entrevista com Tião Carvalho

Tião Carvalho começa invertendo a entrevistra e pergunta:

O que vocês já sabem do Tião?

Ouviu atentamente o que cada um compreendeu ou aprendeu com o Bumba-Meu-Boi. É o Amo cuidando do Boi e de seu batalhão.

Em seguida fala como conheceu o Boi!





O Grupo Cupuaçu é uma divesidade .



Cazumbá
Foto: Michele Medeiros
No contexto em que Bumba-Meu-Boi se coloca em São Paulo, há estudantes, artistas, pesquisadores, gente de várias classes sociais, trazendo conhecimento e experiências diversas - nem melhore, nem piores - uma das outras. (Soraia Saura; Planeta de Boieiros - as culturas populares e educação de sensibilidade no imaginário do Bumba-Meu-Boi, Tese de Doutorado defendida em 2008 na USP pág.324 )


Os Tocadores
Fotos Adriana Guedes

Diferentes heranças culturais que se fundiram para criar essa manifestação. Os significados e rituais, valorizam a fé, a natureza e o povo brasileiro.

Hoje somos, apesar de lusos e dos seus colonizadores, mas também graças ao que eles aqui nos juntaram, tanto os tijolos biorraciais como as argamassas socioculturais com que o Brasil vem se fazendo. (Darcy Ribeiro; O Povo Brasileiro; 1995 pg. 225)

Qual é o significado da palavra cupuaçu?


FOTO DO FRUTO CUPUAÇU

Fruto proveniente da região Norte e Nordeste do Brasil muitas pessoas ainda não o conhecem, assim como ainda não conhecemos muitos partes do Brasil e da nossa história.



Parte dessa história aparece no Bumba-Meu-Boi por meio da religiosidade. Tião fala da fé e da dessa relação e das promessas pro santo.



Os rituais também são heranças ancestrais, eles permeiam todo Ciclo do Boi. O Grupo Cupuaçu realiza as Festas e os rituais da manifestação, dessa prática no decorrer dos anos surgiram os rituais do grupo.




OS PROTAGONISTA DO BUMBA

Ao conversar com Soraia Saura ela nos fala sobre a importância que cada indivíduo tem dentro do grupo e da manifestação, todos são necessários. Da mesma forma são os personagens, cada qual com sua importância e significado. Todos protagonistas dessa festa popular.

Tião Carvalho fala dos significados dos personagens do Bumba-Meu-Boi.





Boi ao Centro, Caboclo de Penas a Direita e Índia ao fundo
Foto: Michele Medeiros


O brasilíndio como o afro-brasileiro existiam numa terra de ninguém, etnicamente falando, e é a partir dessa carência essencial, para livrar-se da ninguendade de não índios, não europeus e não negros, que eles se veem forçados a criar a sua própria identidade étnica: a brasileira. (Darcy Ribeiro; O Povo Brasileiro;1995 pg. 118).

Essa identidade aparece como música polirritmada, característica intrínseca a manifestação. Se por um lado o sentimento de ninguendade ainda nos persegue, por outro nos firmamos um povo novo, misturado e ritmado.

Tião canta uma das toadas que mais gosta.


domingo, 15 de maio de 2011

19 - O BUMBA DO CUPUAÇU

O dia sem perceber tinha virado noite e eles estavam se transformando em criaturas encantadas, as conversas diminuiram na Sedinha, é como se a energia do boi pairasse no Morro do Querosene.


Vaqueiro

Foto: Michele Medeiros


Os Vaqueiros se arrumavam e iam pra fogueira. Fique observando Bete, uma senhora discreta que não é de muita conversa. Ela se trocava no quintal e a medida que colocava as roupas de Catirina sua atitude ia mudando, estava se transformando em sua personagem. Enquanto observava Catirina escutava Marilena sentada no quintal entoando várias toadas, como se fosse uma reza. No vai e vem dos jovens um deles sempre parava e a acompanhava. E assim ela cantou por muito tempo.



Enquanto se arrumava, Pai Francisco emocionado contava que era só um morador do Morro do Querosene.


"Teve um dia que a pessoa que fez o Pai Francisco durante anos disse que não poderia fazer, aí o Tião perguntou se eu topava fazer.
Fiquei com medo porque faltava duas semanas e eu nunca tinha feito nada daquilo. Eu fiz, e hoje eu sou o Pai Francisco do Grupo Cupuaçu.”


Em seguida falou:

“Eu quero que agente amanheça dançando o Boi”


Pai Francisco

Foto: Michele Medeiros


Tião entoa forte a toada:


“Lá vai, lá vai
A turma do morro quando desce é uma beleza
Corre morena vem ver

Pois chegou bonito e colorindo a natureza”



Todos começam a dançar, e assim começa a Festa do Renascer, tambor-onça geme para recomeçar um novo ciclo. O ritmo pesado, a música que nos dá a impressão de cíclica é entoada com firmeza e determinação. A dança traz elementos da terra, da natureza e dos nossos ancestrais. A mesma magia que vi nas crianças que brincavam o boizinho aparecia novamente, mas agora nos olhos dos adultos, a mesma magia de encantamento.


Caboclo de Pena e Índia

Fotos: Adriana Guedes


Dança intensa circular assim é o movimento do grupo, dos ciclos e da própria vida e a todo instante o batalhão reforça esse sentido. Já tínhamos visto ensaios com o Boi mas aquele momento era único, realmente celebravam com o boi. Durante a dança se revezavam, diferentes pessoas dançavam com o boi, inclusive o próprio Amo.


CAZUMBÁ

Fotos: Adriana Guedes



Vi naquela praça, todos se transformando em Índias, Caboclos, Cazumbás, Amo, vi uma celebração de todas as ancestralidades juntas, era como se existissem duas festas, uma que se explica e outra que não se vê, mas se sente, no toque de cada toada. O fogo, apesar de estar num canto aquecia toda a praça.

A DESPEDIDA



O último momento foi muito delicioso, todas as pessoas começaram a dançar ao redor do boi e quando passavamos atrás dos pandeirões compreendemos porque os brincantes não param de dançar. As batidas no pandeirão parecem injeções súbitas de vida, de ânimo e alegria, uma espécie de conexão com a terra e com o universo.


Depois voltamos todos para a Sedinha para comer feijoada e canjica as 02:00hs da manhã do dia 24 de abril de 2011. O mais engraçado é que mal tinha acabado aquela apresentação e já estavam falando da próxima festa, O Batizado. Logo depois do descanso o Grupo subiu para esquentar os tambores e brincar o Tambor de Criola até o dia amanhecer.

18 - O GUARNECER


Foto: Adriana Guedes



"Guarnecer é sinônimo de reunir e concentrar"
ao redor da fogueira o Batalhão guarnece. A festa do Renacer começa a tarde logo que a fogueira é acesa, o fogo afina os intrumentos posicionados ao redor da fogueira. Também nesse momento as pessoas se encontram, conversam e se preparam coletivamente para brincar o boi. “É esta a primeira cena magnífica de muitas do ciclo (...) O início da reunião começa com os instrumentos circulares posicionados redondamente em torno da fogueira que canta para que eles (homens e instrumentos) cantem em seguida (...)"
“Guarnecemos, agora, muito animados, nos preparando para o “Lá Vai”. Aquecemos um batalhão inteiro, um trabalho hermesiano, transitando entre a comunidade pequena e a cidade grande, entre o idoso e a criança, o subjetivo e objetivo" (Saura, Soraia; 2008 – Planeta de Boieiros – as culturas populares e educação de sensibilidade no imaginário do Bumba-Meu-Boi – Tese defendida pela USP)

No almoço antes da Festa Zé Marcos nos fala:


"Esse é o momento mais importante, todo mundo junto, almoçando..."



Aqui já começa o Guarnecer!





17 - BLOCO DO BARALHO




Apresentação do Baralho - SESC Interlagos
Fotos: Rosana Araújo e Leandro Dias


O Bloco do Baralho é um Bloco de Rua Maranhense que não existe mais no Maranhão. Conversando com Tião Carvalho perguntei se era um resgate da cultura maranhense e ele me respondeu:


"É sim! Mas não é só um resgate da dança, é também um resgate da dança que tem dentro de cada um."




Apresentação Bloco do Baralho - SESC Interlagos
Fotos: Rosana Araújo e Leandro Dias


Na festa Henrique Menezes complementa:

"O Bloco do Baralho é ..."







Apresentação Bloco Do Baralho - SESC Interlagos
Fotos: Rosana Araújo e Leandro Dias

16 - O BOI-MIRIM

Assistindo o Boi-Mirim e vendo as crianças acreditando que é um boi de verdade, rindo e se divertindo ao som do tambor pesado. A fogueira acesa e os pais brincando junto com os filhos. Ao estudar essa bela manifestação nos deparamos com a seguinte pergunta:

“Como essa manifestação tem se mantido viva por todos esses anos em São Paulo?”

Foto: Luciana Garcia



Foto: Adriana Guedes


Encontramos a resposta no Boi-Mirim. Esse Bumba para crianças despertou a visão real de um do ciclo da vida, onde os mais velhos transmitem o que possuem de mais valioso aos mais novos.

O Boi-Mirim simbolicamente representa a continuidade desse caminhar. É nessa festa que o boi reafirma sua força e dá possibilidade a todos de aprenderem essa manifestação na prática, tendo contato direto com o auto,


E
Pai Francisco Catirina

Fotos: Luciana Garcia

as toadas, os instrumentos, o guarnecer


e com o boi.

sábado, 14 de maio de 2011

15 - DANÇAS DE RODA

O Cirandeiro, cirandeiro ó
a pedra do teu anel brilha mais do que o sol

Um momento para voltar a ser criança...
Momento que o Grupo ensina e relembra Cantigas de Roda como cacuriá, ciranda e outras. Crianças e adultos dançam juntos.



14 - A FESTA

A Festa do Renascer é uma mistura de alegrias, ritmos e cores. A festa não é só o Boi, mas também Tambor de Criola, o Samba de Roda,

as danças de roda,


o Boi-Mirim,


A Capoeira,


e o Baralho.



Todos esses ritmos e danças que fazer parte de nós brasileiros que estamos nos construindo a cada dia.

13 - PREPARATIVOS DA FESTA


Foto: Leandro Dias


Os preparativos da festa começaram na quinta-feira dia 21 de abril com a limpeza da Sedinha (sede do Grupo Cupuaçu). Liliana Carvalho, uma das fundadoras do grupo dizia durante a limpeza.


"Vamos limpar a última festa, pra que esse ano seja de muitas conquistas para o batalhão."


No meio da arrumação, colocamos os intrumentos pra fora, lavamos os pratos e as panelas pra que na sexta-feira a feijoada começasse a ser preparada pelas mãos de Graça, Eliza e Meire.


No meio de vários depoimentos Carla Souza:


"A festa do Renascer é a mais simples. Não tem altar por causa da semana santa, não tem uma grande decoração como o Batizado e a Morte. O Renascer é uma festa pra quem gosta de brincar o boi."


Liliana Carvalho:


"Hoje o que me faz feliz é ser do Cupuaçu, sou uma das fundadoras do grupo, meu filho nasceu aqui dentro e hoje ele brinca comigo."




12 - COLCHA DE RETALHOS

Minha avó Dona Maria, fazia colchas de fuxico, era uma tradição. Ela passava ás vezes um ano fazendo uma colcha para um filho. Hoje temos várias colchas espalhadas em cada canto do Brasil, com um filho, que passou pro filho e por aí vai.



Foto: Adriana Guedes


“Uma colcha de retalhos temos que escolher a combinação com cuidado, as escolhas certas vão embelezar essa colcha e as erradas vão embotar as cores e esconder a beleza original. Mas não há regras para seguir, você tem que seguir seu instinto e tem que ter coragem.”

Trecho extraído do Filme Colcha de Retalhos


Quando pensei em conhecer os vários “Brasis”, obviamente pensei em começar pela Bahia, terra de minha "vó", inclusive para homenageá-la, mas entendi que para fazer um trabalho profundo, precisa-se entender o que vem antes, nada melhor do que o Bumba-Meu-Boi, para compreender minha ancestralidade e seus ritos.
Durante muitos anos seguidos assisti a um filme chamado "Colcha de retalhos”, e por incrível que pareça, sempre que estou vivendo um processo artístico, anoto o mesmo trecho desse filme, e em seguida esqueço. Como se guardasse dentro do meu mais íntimo imaginário. Hoje dia 21 de dezembro de 2010, voltei a assistir a esse filme, anotei o mesmo trecho e em seguida me lembrei que já tinha feito isso várias vezes, como se fosse um grande ciclo que ficasse interrompido sempre no mesmo lugar. É quase como um mistério, onde a vida fala pra mim que eu não estou preparada ainda. Mas hoje tenho certeza que parte do mistério vem a se desvendar. A pesquisa Bumba-Meu Boi um Rito de Comunhão, vai revelar um trecho desse mistério da vida, porque como Soraia Chung Saura em sua tese diz: “O boi só pode ser revelado, com seus bordados e sua beleza de encantamento, no dia da festa”.


“Os jovens amantes procuram a perfeição, os velhos amantes aprendem a arte de costurar e unir os pedaços, e de ver a beleza na multiplicidade dos remendos.”



Trecho do Filme - Colcha de Retalhos.


Minha “Vó” costura a história da minha família através dos fuxicos, no filme Colcha de Retalhos, as mulheres costuram suas histórias, e as bordadeiras bordam a Manta do Boi. Todas têm algo em comum, amor e encantamento.


O Bumba-Meu-Boi entrelaça adereços, figurinos, cantos, danças, fé, instrumentos, roteiro e etnias. Unifica esses elementos como uma grande colcha de retalhos, que veio sendo confeccionada através dos anos.

11 - Nossas Vivências com o Grupo Cupuaçu

Pedimos licença para o Grupo Cupuaçu e nos foi oferecido um universo cheio de mistérios, encantarias e símbolos. Conforme fomos adentrando seu espaço sagrado, nos pegaram pelas mãos e com paciência nos ensinavam sua dança e seu canto ancestral.


Além de ver e participar dos ensaios do Bumba-Meu-Boi, tivemos a oportunidade de dançar e cantar a ciranda maranhense, o bloco do baralho, cacuriá e brincadeiras de roda.

10 - O GRUPO CUPUAÇU


Foto: Michele Medeiros



Iniciou em 1986, com alguns participantes das aulas de Danças Brasileiras ministradas por Tião Carvalho (Curso de Formação de Atores do Teatro Vento Forte, São Paulo – SP). A proposta era de formar um grupo permanente de estudos de danças populares brasileiras. Ao longo dos anos, o grupo cresceu superando a proposta inicial. Hoje é composto de aproximadamente 40 pessoas de diversos lugares do Brasil, mas principalmente de São Paulo e Maranhão. Organizam-se, dividem funções e brincam o Bumba-Meu-Boi no Morro do Querosene 3 vezes ao ano.


Foto: Adriana Guedes



Foto: Michele Medeiros


O grupo possui uma sede conhecida como “Sedinha”. Esta fica no Morro do Querosene, localizado na região oeste da cidade de São Paulo, no bairro do Butantã. Hoje a Associação Civil Grupo CUPUAÇU-Centro de Estudos de Danças Populares Brasileiras, já é considerado um pólo difusor da cultura popular em São Paulo. Seus integrantes trabalham com arte educação e cultura popular. São dançarinos, atores, músicos e cantores que trocam vivências dentro do grupo Mantém uma rotina de ensaios abertos no Teatro Vento Forte. Brincam as culturas populares transmitindo esse saber a todos que queiram aprender. Como por exemplo, as crianças que nas festas do Boi, aprendem a brincar o Boi-Mirim junto com adolescentes e adultos. Recebem através dessa prática os conhecimentos tradicionais da manifestação.
Em 2011 o Grupo Cupuaçu completa 25 anos de existência e realiza diversas festas durante o ano, fortalecendo a difusão e valorização da cultura popular. Dentre essas comemorações as “Festas do Boi” são as que caracterizam o grupo.





Fotos: Michele Medeiros



“No contexto em que o Bumba-Meu-Boi se coloca em São Paulo, há estudantes, artistas, pesquisadores, gente de várias classes sociais, trazendo conhecimentos e experiências diversas – nem melhores, nem piores – umas das outras.” (Saura, Soraia: 2008 – Planeta de Boieiros)


9 - HENRIQUE MENEZES


Foto: Adriana Guedes





Nos descreve sua devoção e fé. Todo ano vai para o Maranhão "pra" festa de São Pedro.




“Não é uma promessa pro santo(...) é uma coisa que eu tenho comigo (...)”






Todo seu conhecimento do boi e da própria cultura popular são empíricos. Canta e compõe toadas, no Grupo Cupuaçu é o segundo Amo e tocador.








Henrique fabrica manualmente os próprios instrumentos mas foca seu trabalho na confecção de instrumentos típicos do Maranhão. Nos mostrou os instrumentos utilizados no boi e suas células ritmicas.









A base percurssiva, liga todos elementos, religiosos, ancestrais, folclóricos e culturais. Cada instrumento tem sua importância, um completa o outro, se falta um as toadas são executadas, porém como diz Henrique:





"acontece o pé quebrado, ficam incompletas."

Realizamos algumas entrevistas durante essa pesquisa, com base nos depoimentos recolhidos entendemos a identidade musical como uma somatória de vivências.








Pra finalizar , Henrique Menezes fecha o ciclo da nossa entrevista cantando uma de suas composições.






8 - GRAÇA REIS - 24-02-2011


Foto: Michele Medeiros



Uma mistura de avó e passado. O simples e o belo, palavras sábias que não se aprende na escola nem na universidade, mas com a vida.
O cuidado e delicadeza com a qual nos acolheu para entrevista são indizíveis. Uma grande mãe zeloza que cuida do boi, festa após festa, ano após ano, um cuidado contínuo como um grande bordado.

Dona da própria técnica, o critério que Graça utiliza para desenvolver seu canto é:




"Se eu sentir machucar eu não canto."



Perguntamos a Graça qual sua toada preferida e ela canta...



Na ilha eu vi matraca tocá / na ilha eu balancei meu maracá
Reúne meu povo / em meu batalhão
pra cantar toada nova em / louvor a São João







Autora: Graça Reis



Ouvindo Graça Reis falar da observação da própria voz, compreendemos um pouco da sua identidade e consequentemente aprofundamos nossa pesquisa.



"Nós brigamos muito, acontecem muitas coisas ruins, mas quando o boi morre olhamos uns para os outros e simbolicamente derramamos vinho na bacia, como se todas as tristezas estivessem sendo lavadas.” (Graça Reis)



Existe um grande ciclo natural, dentro da gente e fora, é preciso observação e experimentação.



"...vocês da pesquisa me desculpem, não escutam direito... ... precisam experimentar”

7 - TIÃO CARVALHO 19-02-2011

O que o senhor acha de transcrever as toadas em partituras?


“... acho que o boi tem que ser o mais poliglota possível. As pessoas precisam saber o que é o Bumba-Meu-Boi das mais variadas formas.”

A chuva rápida cessa, mais alguns instantes chega Tião. Sem percebermos outro tempo se instaura. Pergunta e resposta, respiração, tranquilidade e nos habituando a esse outro tempo, começamos a explicar o motivo de estar ali. Ouviu pacientemente um por um. Depois explicou que as culturas populares não são um patrimônio dele nem de ninguém. Pertence a todos! Entretanto é preciso cuidar desse patrimônio da humanidade.

“...a mídia não fala quem somos, então uma coisa dita errada leva muito tempo pra consertar... da pra fazer um trabalho , dá pra se viver da cultura popular e fazer um trabalho bem feito... e o povo gosta do que é bonito e bem feito.”

Não podemos fazer o Bumba-Meu-Boi de qualquer jeito. Existem muitas diferenças nas culturas populares, não podemos falar qualquer coisa.


Perguntamos:

“Você acha que é possível fazer um TCC com foco na toada em tão curto tempo?”


E ele com paciência disse:“Quanto mais tempo melhor. Mas se vocês forem mudar agora vocês vão se perder, então continuem! Só que eu vou dar uma lista de toadas e cantadores que vocês vão ter que ouvir.”


Convidou-nos a assistir aos ensaios todas as quintas-feias no Teatro Vento Forte. Após ter pesquisado tudo que foi indicado, marcamos nossa primeira entrevista.

sábado, 7 de maio de 2011

6 - SORAIA SAURA - 20-01-2011


Praça onde acontece as Festas do Boi
Foto: Leandro Dias



"Aqui na praça do povo, a festança de junho, já começa em mês de maio..."
Trecho da Música - Vila Pirajussara do CD Todo Canto Dança do Grupo Cupuaçu




Foi durante o planejamento do TCC que encontramos a Tese de Doutorado "Planeta de Boieiros - as culturas populares e educação de sensibilidade no imaginário do Bumba-Meu-Boi" de Soraia Saura. Conversávamos sobre o projeto com nossa professora de Ética Janaína Bastos e então ela disse:



"A Soraia é minha amiga!"



Janaína então ligou para Soraia e desde então sua tese tem sido nossos olhos nessa pesquisa.

No encontro com Soraia, explicamos a sobre nosso TCC e ela contou um pouco do seu processo de pesquisa e das suas vivências no Grupo Cupuaçu, do qual faz parte a mais de 10 anos. Foi encantador vela falar com tanto amor e respeito sobre seu grupo. Segurando a filha nos braços fala de como o Bumba-Meu-Boi valoriza todos os participantes do grupo. Diz:




"Até ela (se referindo a filha) quer ser protagonista, porque todos querem ser protagonistas."


Nos indicou também algumas pessoas e livros que poderiam nos auxiliar em nosso trabalho.







  • O Livro Bumba-Boi-Maranhense em São Paulo de André Paula Bueno




  • Falar com Renata Amaral Pesquisadora da Cultura Popular uma das criadoras do grupo A Barca




  • Falar com Marcos Ferreira Santos - Livre Docente pela FEUSP em Cultura & Educação. Pós- Doutoramento em Mitohermenêutica (Universidad de Deusto (Euskal Herria, País Basco). Professor Visitante de Mitohermenêutica em várias universidades na Espanha e América Latina. Pedagogo, folklorista, músico e arte- educador. site: http://www.marculus.net/




  • Nos indicou Tião Carvalho – Líder comunitário no Morro do Querosene, fomentador da cultura popular, brincante do Bumba-Meu-Boi desde seu início no Morro do Querosene, fundador do Grupo Cupuaçu e Amo do Boi




  • Nos falou sobre os tipos de toadas, toadas de guarnecer, de deslocamento, de licença, toadas de pique e despedida. Um tipo de toada pra cada momento da festa como descreve no terceiro capítulo da tese.




  • Falou também sobre os depoimentos que colheu em pesquisas no Maranhhão, e que a rua realmente treme quando o batalhão está chegando.


Soraia nos mostra o vídeo que produziu junto com a tese Planeta de Boieiros.



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Burrinha Boi-Mirim
Foto: Luciana Garcia




No final antes de irmos embora Soraia nos mostra sua personagem, A Burrinha. Nos ensina que para fazer a Burrinha mexer o bumbum, precisamos mexer os ombros. Um vestiu a Burrinha, todos se encantaram e então partimos levando conosco essa lembrança!